quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Oprah Show

Hoje acordei ansioso! É já depois de amanhã que tenho o meu exame de mecânica dos materiais e está muita coisa em jogo. Nunca mais chega a sábado de manhã para eu poder respirar normalmente outra vez. E para os que estão a pensar que “respirar normalmente” trata-se de uma figura de estilo enganam-se, é a expressão que traduz literalmente o que sinto.

Como normalmente acontece nestes dias, acordei cedo mas não me apeteceu mexer. Fiquei tão quietinho na cama que nem sequer me mexi para acender a televisão, mesmo sabendo que tinha o controlo remoto a escassos centímetros da minha mão. Fui me deixando ficar e rapidamente me dei de conta que passei cerca de uma hora e meia na mesma posição sem fazer nada. Então decidido a ganhar alguma energia levantei-me, fui comer, vesti o fato de treino e sai de casa para correr. Nem posso dizer que a corrida tenha sido muito boa pois devido à distensão muscular que fiz num pé, faz hoje oito dias, passado 12 minutos já estava a correr e coxear em simultâneo. Mas tendo em conta que isto me manteve fora de casa durante perto de três quartos de hora já cumpriu os meus objectivos.

Chegando a casa acendi a televisão e fui tomar um duche. Estava na banheira quando ouvi a melodia da “Oprah Show”. Dei um pulo da banheira e, ainda meio a pingar, sentei-me na cama a assistir ao talk show. O tema do dia era “Vidas Secretas” mas, durante a introdução, pensei que ia ser aborrecido pois a titulo introdutório foi abordado a vida de um politico que aos 43 anos, sendo casado e pai de três filhas, assumia em publico que era gay, foi abordado ainda um outro caso em que uma mulher descobriu, após 25 anos de casamento, que o marido tinha uma segunda família num outro estado, etc. e, tendo a conjuntura nacional, estou farto de ouvir falar da vida homossexual dos políticos bem como de quem pôs “os cornos” a quem, passo a expressão. Mas como adoro The Great O fiquei a assistir e, uma vez mais, esta mulher conseguiu surpreender-me. As três convidadas não vieram contar os pormenores das suas vidas sexuais, mas sim vieram apresentar um caso de um mulher, mãe de três crianças, com posses que era, utilizando os termos do programa, uma ladra compulsiva em lojas de conveniência e de outras duas mulheres que se renderam ao vicio do jogo e no qual jogaram o bem mais precioso que tinham: a sua dignidade.

A razão de escrever este post não tem a ver com o meu dia aborrecido, nem com a vida destas mulheres. Estou a escrever para explicar a razão porque idolatro esta mulher. Para mim a Oprah representa o expoente máximo de tolerância no ser humano. E, ao saber que é a apresentadora de um talk show mais bem paga no mundo, faz-me acreditar que cada um tem o que merece. É um caso em que a utopia tornar-se real. É preciso ter muita coragem para quando temos uma mulher (com poses) à nossa frente que foi presa, à frente do seu filho de sete anos, por ter roubado um frasco de maionese a olhar-mos nos seus olhos a tratarmos como uma igual. Rapidamente a audiência lembrou àqueles, que por momentos se possam ter esquecido, que roubar além de ilegal é imoral. Não nos podemos esquecer do que a igreja nos ensina “Não roubarás”, apesar de nunca nos lembrar-mos de que a mesma também defende que devemos "Amar o próximo". Mas Oprah, não escondendo a sua admiração, disse-lhe apenas que, à parte de não compreender o que podia levar uma pessoa a cometer um acto daqueles, gostaria que lhe explicasse o que é que a fazia voltar a roubar e como é que este ciclo começou. Isto é a tolerância: não julgar-mos e tentarmos perceber o que se passou e o como começou, todas as moedas têm uma face e um verso.

Moral do programa: Seja que vicio ou forma de vida for, o segredo é o que dá força à doença. O facto de fazermos as coisas às escondidas torna-nos vulneráveis. Se queremos lutar contra um vício ou contra a vulnerabilidade de uma vida secreta só nos resta assumirmo-nos e procurar-mos apoio.

Para finalizar vou tentar repetir as palavras que mais me emocionaram no programa. Oprah, apesar da facilidade e da credibilidade que tinha para julgar uma anónima como era o caso desta mulher, olhou-a nos olhos carinhosamente e disse simplesmente: “Tu és um exemplo de uma grande força interior. E para todas as pessoas que têm uma vida secreta e que as únicas duas saídas que encontram são, como os casos que hoje aqui apresentamos, assumir os seus erros ou acabar tudo com o suicídio então mais vale contar tudo. Não vale a pena estarem com medo de deixarem de ser amadas porque as pessoas, que realmente gostarem de vocês, vão vos continuar a amar e as que se afastarem nunca vos amaram. E só se assumindo é que poderão voltar a encontrar a paz interior.”

Sem comentários: