domingo, janeiro 30, 2005

Um ficheiro antigo... Uma mudança na vida...

Hoje andava por aqui a organizar os ficheiros do meu pc e encontrei este texto:

Dia dez de Janeiro… Provavelmente estaram a pensar que normalmente as resoluções de ano novo são feitas no dia UM! Pois é, mas no meu caso cheguei hoje da Terrinha e considero que hoje é que é o dia certo para fazer as minhas resoluções. E para ser totalmente anti tradições, as minhas resoluções não serão para o ano inteiro, mas só para o primeiro trimestre. Ou seja, de hoje a 90 dias, venho cá verificar qual a percentagem de resoluções que eu consegui cumprir.

1ª Resolução:

Tomar conta das minhas contas. Apesar de não acreditar que vá conseguir poupar dinheiro, mas pelo menos manter um registo de como o gasto.

2ª Resolução

Tenho que manter a casa num estado mais decente… Acabou-se a desculpa de por ter um compartimento em obras, posso ter o resto numa desgraça.

3ª Resolução

Tenho que comer mais vezes em casa… Há que poupar…

4ª Resolução

Controlar o tempo que passo na net… Quero continuar a ser um cibernauta e não quero me transformar num ciberfreak (PS: O MSN não conta)

5ª Resolução

Manter este Blog, fazendo a manutenção semanalmente aos domingos.

E agora basta aguardar pelo dia 10 de Março para saber quais as resoluções que consegui cumprir

Pois é, nunca me passou pela cabeça que eu fosse ser citado antes dos 90 anos. Se bem que não sei se esta deveria entrar para estatísticas pois não passa de uma auto citação. O que interessa é que se uma pessoa quer mudar algo na vida não pode voltar com a decisão atrás, por isso apesar de ser com um mês de atraso, aqui estão as resoluções que eu fiz para este trimestre.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Organizando as ideias...

Eram perto das quatro da manha quando acordei sobressaltado com um barulho na sala. Pelo som consegui identificar um sem número de pequenas peças metálicas espalhadas pelo chão. A única reacção que eu consegui ter aquela hora da manha foi virar-me para o outro lado e tentar voltar a adormecer. Fosse o que fosse que a gata tivesse deitado ao chão certamente quando me levantasse ainda lá estaria, à minha espera, para arrumar. E assim, na esperança de que este episódio não passasse de um sonho, voltei a adormecer.

Quando me levantei, após a minha rotina matinal, pude constatar que tinha a minha caixa de parafusos espalhada pelo chão. Sentei-me e comecei a juntá-los para os poder arrumar. Esta tarefa pode ser feita de duas formas: a primeira é arranjar um frasco jeitoso e meter tudo lá para dentro, a segunda é pegar numa caixinha de compartimentos e com alguma paciência organiza-los. A segunda hipótese além de ser esteticamente menos repugnante também aumenta a probabilidade de algum deles vir alguma vez a ser usado. Então mãos à obra: toca a apanhá-los e a separa-los. Primeiro separamos os parafusos das porcas e dos pregos. Depois nos compartimentos distribuímos parafusos autoroscantes para madeira, de rosca normal para madeira, de rosca normal para bucha, pregos de aço para cimento, pregos regulares para madeira e acabaram-se os compartimentos. Ainda faltam as porcas, as buchas e mais um sem número de peças que poucos conseguem identificar.

Tentar organizar uma caixa de parafusos é como tentar arrumar as ideias na nossa cabeça. Quando mais pensamos no assunto mais complexa a tarefa se torna. E para aqueles que já estiveram perto de completar uma destas tarefas sabe que a ultima peça a aparecer nunca se encaixa em nenhuma das categorias organizativas que criámos. E é ai que a realidade física se torna mais fácil, deita-se o parafuso intruso fora e assunto arrumado. O problema é quando se trata da nossa realidade emocional. Infelizmente ainda não consegui fazer um up-grade do meu cérebro para adquirir a função “Delete”.

Apesar de já se terem passado alguns dias desde o incidente com a festa de família, que vos relatei, as ideias na minha cabeça ainda não estão completamente assentes. E quanto mais eu penso nelas e as tento arrumar, mais caótica fica a minha cabeça. A sensação, depois de uns momentos de introspecção, é a mesma que temos depois de olhar para um frasco de parafusos numa prateleira. Alem de esteticamente ser deprimente ficamos sempre com a sensação, mesmo quando não corresponde à realidade, que os parafusos estão ferrugentos e a precisar que alguém os leve para a reciclagem.

No fundo o meu problema é desejar utopicamente sentir-me integrado numa família. Todos nós, enquanto animais, nascemos com o instinto de procurar a protecção perto dos nossos progenitores e como seres humanos tentamos alargar este sentimento de segurança à nossa família. Mas quando as vivências são diferentes, a maneira de estar perante a vida também é diferente. E quando isto acontece temos que por de parte a ideia padronizada de que uma família unida é aquela em que todos participam e divertem-se em rituais, nomeadamente os almoços de família e contextualizar o conceito. Pessoalmente acho que o meu conceito de família passa pelo respeito que as pessoas demonstram pela personalidade e espaço do próximo. Só quando uma pessoa sente que os seus princípios e a sua vivência são respeitados é que pode se sentir integrado no seio de uma família unida.

Só para deixar claro: não me considero a vítima da situação. Até porque felizmente gozo da minha liberdade e consigo, contra a vontade de muitos, manter o meu perímetro de privacidade livre de perigo. E apesar de não me sentir integrado no seio de uma família unida sinto que mantenho uma relação de respeito e amor com algumas das células autónomas desta mesma família.

domingo, janeiro 23, 2005


Angel from Hell Posted by Hello

Fantasmas do passado

A mensagem do Voice Mail dizia assim:

“Tem uma mensagem nova. Para ouvir carregue na tecla 1. Recebida às 18 horas e 03 minutos: Toddy, não merecia que me fizesses isto. Eu já te ajudei. E podes vir buscar a tua flor, eu não a quero, ou então vou deixa-la ai à tua porta.” A voz ofendida e enraivecida tentava esconder as lágrimas de alguém que foi magoado.

Apesar de me considerar uma pessoa fria e calculista, não pude deixar de me sentir tocado por esta mensagem. Afinal era da minha avó e sem sombra de duvidas tinha lhe conseguido atingir o calcanhar de Aquiles, no caso da minha avó os famosos almoços ou jantares de família. Uma vez mais tinha arranjado uma desculpa para não aparecer, mas desta vez tinha sido sem dúvida demasiado esfarrapada.

Como uma pessoa calculista que sou, logo comecei a deduzir uma boa explicação para me explicar a mim próprio a razão de tal golpe baixo. Afinal, não só eu tinha feito a desfeita de não aparecer ao almoço, como também fi-lo da forma mais covarde que existe: fui comprar comida para os gatos e aproveitei a oportunidade para deixar a dica “Vô, entregue esta planta à Vó e diga-lhe que eu vou hoje para o Porto e amanha não devo estar cá antes da hora de almoço.”. Pois é, nem tive a coragem de lhe olhar nos olhos para dizer isto. Isto já é um hábito, não que me considere um cobarde, mas tenho a terrível tendência de tentar agradar a toda a gente. Por vezes fico com a sensação que acredito que a minha realização pessoal dependa do facto de todas as pessoas me considerarem um rapaz bem-educado e amoroso. No fundo sei que não é verdade, mas a julgar pelos meus actos parece que sim, parece que realmente acredito que a minha função neste mundo é agradar a Gregos e Troianos. Mas desta vez, o tiro saiu pela culatra, e a minha mentirinha piedosa conseguiu magoar mais do que se eu tivesse sido directo e tivesse dito “Não vou, porque não gosto de almoços de família.”.

Não consigo deixar de me censurar por estar a causar tanto alarido à volta de um simples almoço. Afinal eu não almoço diariamente? E as pessoas que se reúnem? São minha família, alguns com quem mantenho uma relação muito próxima, outros que simplesmente mantenho uma relação. Indo directamente ao cerne da questão: o problema coloca-se por eu ser tão introvertido e não me conseguir sentir à vontade nestas situações. Depois é a velha questão de, que toda a gente conhece, que quem vai a três almoços destes já sabe como são os outros todos. Para finalizar, há o inconveniente de eu ser abstémio. Ou seja, voltando ao início para deixar tudo bem claro, o meu lugar num jantar destes é quietinho e caladinho num canto. Na tentativa máxima de passar despercebido pois, no caso de alguém reparar na minha presença, as perguntas sobre quando é que vou acabar o curso, tão inconvenientes para alguém que o tem prolongado mais que o suposto, vão acabar por aparecer. Logo a seguir, aproveitando a dica de ser estudante, é questionado o porquê de não visitar a família mais vezes. E não vale a pena tentar elevar a voz acima de algumas conversas cruzadas pois, quando tentar responder justificando-se que o número de visitas deve-se acima de tudo ao exemplo familiar, a conversa já está sintonizada noutra estação. Para rematar, vem a questão do álcool. Afinal é incompreensível que uma pessoa, que já tem idade para beber um copo de vinho, seja um desmancha-prazeres e continue com a teimosia de ser abstémio. Às vezes questiono-me se realmente cresci neste seio familiar? Será assim tão confuso para as pessoas, particularmente a minha avó, compreender que eu sou abstémio por opção? Será que é assim tão difícil as pessoas verem os casos de alcoolismo que há na familia? Eu não consigo esquecer a minha infância. O facto dos meus pais ainda não se terem divorciado deve-se ao imenso amor que nutrem um pelo outro que os ajudou a ultrapassar os problemas causados pelo álcool. Perdoem-me esta obsessão mas é dificil olhar para um copo de vinho e esquecer-me das intermináveis discussões que eu tive de ouvir por causa de outros iguais àquele. O facto de a minha avó paterna ter falecido porque o meu avô embriagado a empurrou pelas escadas abaixo quando ela estava grávida de alguns meses também é daquelas hestórias que ouvimos e que nunca esquecemos. E mesmo quando estamos determinados a tentar afugentar os nossos fantasmas ficamos impotentes perante o cenário final destas refeições. Em que observamos aqueles casos de pais extremosos que insistem em conduzir com as crianças no banco de trás, mesmo depois de tropeçar nas escadas por estar a ver mais degraus que havia na realidade. E depois disto, perdoem-me a sinceridade, mas eu não consigo deixar de sentir nojo quando oiço alguém dizer: “branco ou tinto, que seja muito”.