Estava eu aqui há dias, numa das minhas sessões de conversas cruzadas do msn, quando numa das janelas a conversa tomou este rumo:
Manelito says:
tu tens pilhas duracel
Manelito says:
ele não
Manelito says:
tadinho
you never loose... says:
nao som pilhas duracelll e um a cultura diferente
you never loose... says:
eu: estou cansado , mais prefero esquecerlo e nao dessirlo e passarlo bem , e nao chatear a ninguem com o meu cansancio sobre tudo se só te vejo ao fds nao vou ir e decirte, fogo estou mole e cansada
you never loose... says:
portugues: actitude fds: fogo tou tao cansado de trabalhar durante a semana, hoje dormi 12 horas, dormi de mais agora estou mais cansado, fogo estou tao mole
Apesar de o portunhol ser uma língua muito ampla e pouco difundida, o que implica alguma complexidade na interpretação da conversa, não pude deixar de me envergonhar com o que ele disse. Afinal de contas quem é que não conhece alguém que sofra dos mesmos sintomas? Eu, aqui que ninguém me ouve, passo alguns fins-de-semana deprimido porque acordei tarde, mole e simplesmente não fiz nada para inverter a situação.
O problema começa quando olhamos à nossa volta e nos apercebemos que realmente este é um sentimento generalizado. Raras são as pessoas que não sofrem com estes sintomas. Ao ponto de ficarmos assustados quando nos começamos a envergonhar de nos sentirmos bem. Não acreditam? Imaginem este início de conversa:
X says:
Então e como foi o teu sábado?
Manelito says:
Olha de manha fui correr, depois passei em casa da minha tia, almocei e de tarde andei a ver se avançava um pouco nas obras da parede do quarto e agora estou a escrever um post para o blog. E o teu?
X says:
O meu foi a mesma coisa de sempre. Levantei-me tarde. Almocei. Estive deitado no sofá a ver um dvd. Adormeci. E agora estou para aqui mole, cansado e aborrecido.
Uma pessoa até se sente mal de dizer que está cansada mas que se sente bem. E então quando perguntamos a alguém aborrecido porque não saiu? Ou porque não fez uma coisa qualquer? A resposta não está muito longe do “Não tive paciência.”. E o mais impressionante é quando ouvimos comentários do género: “Não sei como é que tu tens paciência para esses Blog’s” ou “Eu não sei como é que andas a fazer essas obras. Eu acho tão aborrecido pintar” vindos de pessoas que se acabaram de lamentar de não ter nada para fazer.
A verdade seja dita, tal como toda a gente, eu tenho uma tendência enorme para ficar a um canto aborrecido, triste, a pensar e acima de tudo a ter pena de mim próprio. Ou em casos extremos chego a cultivar o sentimento de inveja com pensamentos do tipo de: “Quem me dera ser como o outro que agora está divertido”.
Se me permitem, passo a citar umas das muitas frases memoráveis do filme “The Crow” onde o barão do crime organizado diz: “Nós sabemos que chegamos a uma fase adulta no dia em que tomamos consciência que um dia vamos morrer”. Depois de ouvir isto, cheguei à conclusão que era altura de crescer e tornar-me pró-activo. Criei o blog, pintei o escritório, estuquei a parede do quarto, dei cimento no armário da casa de banho, encerei o carro e convidei os meus amigos para uma conversa entre outras coisas. E mesmo sabendo que isto não é uma vida cheia de aventuras senti-me contente. Pois estas tarefas, além de serem bem mais económicas que andar a passear, ocupam-me o espírito e enriquecem-me a mente. Ou seja, sempre vou aprendendo qualquer coisa nova, não tenho tempo para ter pena de mim próprio, não ando tão aborrecido e no final do dia: não contagio ninguém com o meu mau humor.
Por fim gostaria só de dizer que o primeiro excerto apresentado é verídico. Os outros são baseados em factos verídicos que aconteceram ao longo de muitas conversas. Não quero magoar ninguém, nem quero que ninguém me imite, apenas digo isto para aprenderem mais um pouco sobre mim.